segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

O Senhor Dinamite e o João-de-Barro

Morreram James Brown, o papa do funk (do bom!) e do soul, e o compositor carioca Braguinha.

É por essas e outras que eu me pergunto: por que tanta porcaria sobrevive na música e o que é bom fica para a eternidade?

Sim, porque tanto o cantor americano quanto o quase centenário Braguinha deixaram marcas indeléveis na música, cada um com seu estilo, cada qual com sua contribuição.

O primeiro não teve vergonha em cantar o orgulho negro. "Said it loud, I'm black and I'm proud!" foi o primeiro grande sucesso de James Brown, a primeira canção que o alavancou para as paradas de sucesso, onde teve outras doze composições como número um, entre elas "Livin' In America", "Get Up (Feelin' Like A Sex Machine)", "Please Please Me", "I Got You (I Feel Good)" e "Papa's Got Me A Brand New Bag".

Tão genial quanto encrenqueiro, o 'Senhor Dinamite', como foi apelidado, foi preso inúmeras vezes. A última delas no ano passado, sob acusação de desordem e agressão física - ai de suas mulheres, que sofreram nas mãos dele.

E mesmo com uma folha corrida de fazer inveja a qualquer político do Brasil, James Brown tinha grande trânsito no meio musical. Não são poucos os estilos influenciados por ele: do reggae ao soul, passando pelo rock, o hip-hop e o próprio funk, que ganhou notável evolução depois de suas primeiras composições. Um estilo que evoluiu em qualidade e artistas / bandas capazes de fazê-lo explodir e ganhar vertentes como a que lamentavelmente domina a música aqui no Rio de Janeiro.

Vamos em frente. E muita gente lhe paga tributo até hoje, como o Rolling Stone Mick Jagger, o esquisitão Michael Jackson e o camaleão David Bowie. Pelo menos esses três se dizem altamente inspirados na obra, no estilo e nas performances de James Brown.

O cantor geralmente trocava de terno dezenas de vezes em seus shows. Dançava sem parar, de forma frenética e tão sensacional quanto marcante. E era exigente com seus músicos. Como um redivivo Tim Maia, o 'Senhor Dinamite' não admitia erros e queria mais e melhor de sua banda. E foi assim até o fim de sua carreira.

Fica na memória a marcante atuação do pai do Soul em "Os Irmãos Cara-de-Pau" (produção de 1980, dirigida por John Landis, com John Belushi e Dan Aykroyd) onde ele interpreta o reverendo Cleophus James na primeira parte do filme. Brown canta com tanta paixão e tão alucinadamente uma música gospel, que um dos irmãos Blues (se não me engano o gordinho Jake) acaba 'vendo a luz' e buscando na música a salvação para sua pobre alma.

Quanto a Braguinha, o Brasil e o Rio de Janeiro perdem uma referência musical e carnavalesca, principalmente esta última. O compositor, que completaria um século de vida em março de 2007, tinha a cara da maior festa popular do país.

Sem conhecer absolutamente nada de teoria musical, estudado escalas jônicas ou algo semelhante, Braguinha (que tinha o pseudônimo de João-de-Barro para atuar escondido da família, que não aprovava sua vocação) compôs mais de 600 obras - muitas delas ficaram na história, como 'Carinhoso', a valsa que teve como parceiro outra lenda da música brasileira, Alfredo da Rocha Vianna, o "Pixinguinha".

Meu coração
Não sei porquê
Bate feliz
Quando te vê

E os meus olhos
Ficam sorrindo
E pelas ruas
Vão te seguindo

Mas mesmo assim
Foges de mim

Vem matar essa paixão
Que me devora
O coração

E só assim então
Serei feliz
Bem feliz

Outro momento memorável: em 1950, na goleada que o Brasil impingiu à Espanha por 6 x 1, o Maracanã inteiro se pôs a cantar "Touradas de Madri", a marchinha carnavalesca que virou o hit da Copa do Mundo em pleno inverno. Um espetáculo entoado por 170 mil vozes, que fez Braguinha chorar de emoção.

Ninguém cantou a alegria como ele, nem as lourinhas, as morenas ou as mulatas. E sua obra foi decantada em verso e prosa pela Estação Primeira de Mangueira, num desfile histórico em 1984, quando a escola arrebatou o Sambódromo fazendo o percurso até a Praça da Apoteose e depois voltando para delírio do público.

O homenageado foi pé-quente. A Manga foi campeã depois de onze anos. E o coração de Braguinha, que era vermelho-e-branco (as cores do Salgueiro) tornou-se verde-e-rosa para sempre.

Um coração que deixa de bater no compasso do surdo de marcação. Como o do 'Senhor Dinamite', que deixa de bater no compasso do funk que tanto o consagrou.

"Have you seen the light!"

Braguinha e James Brown viram a luz.

5 comentários:

Anônimo disse...

Uma correção e um comentário.

A correção: o nome do ator é John Belushi (já falecido , vítima de overdose) e não o seu irmão James, também ator.

O comentário: nunca vou esquecer o João-de-Barro por um simples motivo. Ele juntamente com Alberto Ribeiro criaram a música ‘Chiquita Bacana’ e Chiquita é o apelido de minha avó e em homenagem aos 85 anos dela criamos em nossa cidade um bloco de carnaval chamado ‘Chiquita Bacana’.

Não tivesse ele sido o grande compositor que foi por causa dessa música já estaria para sempre marcado em minha vida.

Rodrigo Mattar disse...

Amigo, obrigado pela correção. Será feita já.
Abração e Feliz Natal!

Anônimo disse...

Fico sempre torcendo pelo seu sucesso, pois você além de um grande jornalista é um cara super gente fina.

Grande 2007 Rodrigo.

Anônimo disse...

Como sempre, meu Dos Gatos, tu me emociona, amei esse post, belo e merecido.
E essa musica? Simplesmente linda
Te amo"
Das Gatinha, rs*

Anônimo disse...

Olá, Rodrigo é muito bom ler o que você escreve e esse sobre essas duas personalidades ficou showww
É muito gostoso dançar ao som de James Brown, e namorar com ao som de ... meu coração, não sei porquê bati feliz quando ti vê...
beijosss, meu lindo.
Renata