Fim de ano é assim desde 1974, com uma exceção em razão do falecimento da terceira esposa, Maria Rita. E lá vem Roberto Carlos invadindo nossas casas sem pedir licença, cantando amores, dores, amigos, gordinhas, taxistas, caminhoneiros, gente de óculos e quejandos.
Ninguém se mantém como o ícone de um estilo musical por tanto tempo ao acaso. Roberto mantém um séquito fidelíssimo de fãs que variam de senhorinhas de cabelos ultragrisalhos a rapazes de boa família, românticos de primeira hora.
Os detratores têm motivos para execrar aquele que chamam de "Rei", porque o dizem superado, marcado pelo tempo. É bem verdade que Roberto já não é mais o garoto que incendiava as platéias do Teatro Paramount na gravação do 'Jovem Guarda' com suas canções que o fizeram ascender ao patamar de astro pop no país. E sem dúvida está superado musicalmente. Uma viagem ao tempo ouvindo boa parte de suas canções entre 1963 e 1973, comparando com o que ele fez nos últimos trinta anos, é covardia.
Não ignoro a importância do cantor nesse último período, mas para mim fica notório que na sua primeira grande fase, como roqueiro, como compositor e até quando se bandeou para uma linha mais, hum... romântica, ele era de fato competente e muito bom. Pegava na veia em músicas que tinham recado certo, como "Quero Que Vá Tudo Pro Inferno" (que hoje ele veementemente renega), uma canção feita para a ex-namorada Magda Fonseca. Ou também em "Quando", cujo título muitos consideram boboca, mas de uma levada e letra contagiantes. E o que dizer de "Amada Amante", a sensacional canção de amor que fez para a primeira esposa, Cleonice Rossi, com quem contraiu matrimônio na Bolívia em 1968, por ela ser desquitada?
Roberto teve lampejos de brilhantismo em sua fase funk, com os clássicos "Jesus Cristo", "Todos Estão Surdos" e "Não Vou Ficar", que representaram no fim dos anos 60 uma notável evolução musical do Rei, que coincidiu com o mega espetáculo "A 200 Quilômetros Por Hora", que lotou o Canecão durante o segundo semestre de 1970.
Não é à toa que o antigo produtor de seus shows, Luiz Carlos Miele, saiu-se certa vez com essa: "O Roberto era muito receptivo às novidades. Eu digo: era."
Porque realmente hoje não é mais.
Cantar funk farofa como o de MC Leozinho no especial que vai ao ar nesse sábado, não é, na minha opinião, um crossover entre o seu trabalho dos anos 60/70 e o que a molecada sem-cérebro escuta hoje nas rádios. A música hoje não tem mais letra, não tem conteúdo, não tem porra nenhuma. Era muito mais bacana para a juventude de 40 anos atrás ouvir o Roberto mandar 'tudo para o inferno' ou confessar 'amar a namoradinha de um amigo meu'.
Hoje as pérolas musicais falam em 'boladona', 'cachorra', 'vou aparar pela rabiola' e outras atrocidades. Mas o funk não está sozinho no atropelamento à boa música nacional. Os baianos também contribuem com um festival de porcariadas e o pagode pasteurizado disputa a primazia cabeça a cabeça. E nem falei do sertanejo, que até tem o seu valor pra quem o curte. Como carioca, não é muito a minha praia. Aliás, nunca foi.
Eu cresci ouvindo música de verdade, com conteúdo, letra, melodia, mensagem, sentido. Ouvindo alguns dos melhores discos, do rock ao que se convenciona chamar de MPB. Bebi em boas fontes. E por ter feito isso em 35 anos, não admito ver o Rei pagar um mico inenarrável cantando "Se ela dança, eu danço" neste sábado.
Como disse Caetano Veloso em um de seus primeiros clássicos, "Baby", prefiro 'ouvir aquela canção do Roberto'.
4 comentários:
Senti o mesmo que vc ao ver o Roberto Carlos cantando essa m... de música no show de ontem à noite. A Globo é que deve impor o repertório.
Eu cresci ouvindo RC, minha irmã mais velha é fã dele, tinha todos os LP's, mas hoje nem ela compra mais os discos dele... que pena! Talento não morre assim, ele bem que poderia voltar à razão.
Dos Gatos
Tu reclama demais!!! rs*
Eu achei até "bunitinho", hehehehe
Mas...
Te amo, mesmo assim!
Beijos!
Nós é que dançamos, camarada!
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