quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Um passo atrás

Todo mundo feliz e sorridente na foto, agora. Quero ver se caso a seleção fracassar em 2014, quem vai dar risada...

A Confederação Brasileira de Futebol pisou feio na bola e resolveu dar um passo atrás para, quem sabe, conseguir dar dois à frente. A saída de Mano Menezes do comando da seleção não era esperada para agora, mas a julgar pelo desempenho pífio na Copa América do ano passado e por mais um vice-campeonato olímpico, ficou claro que ele não duraria muito no cargo. E Mano, é bom lembrar, fora uma escolha do antigo presidente Ricardo Teixeira, não do atual, José Maria Marín, que assumiu o cargo em meio a denúncias de corrupção sobre o mandatário anterior - mas que, cabe a ressalva, não é dos mais queridos no meio. Muitos o têm como uma figura abjeta, governador biônico do estado de São Paulo, malufista, filhote da ditadura, enfim... coisas da política nacional.

Saiu da seleção um técnico de currículo mediano, carisma beirando a zero e que por muitas vezes convocou jogadores insípidos e outros, visivelmente, visando negociações com o mercado internacional da bola. Não é de se espantar que Hulk, atleta do Porto antes dos jogos olímpicos de Londres, tenha sido negociado por uma fortuna absurda para o Zenit St. Petersburg, da Rússia. Como explicar tal fenômeno? Com a palavra, as ligações estranhas entre o técnico e seu empresário, Carlos Leite, que também era responsável por dezenas de jogadores convocados por... Mano Menezes.

De certa forma, a demissão de Mano põe fim a um fenômeno que incomodava boa parte da imprensa: o corinthianismo que começava a imperar dentro da seleção, pois além do técnico, que trabalhou no alvinegro de Parque São Jorge, havia ainda Andrés Sanches por lá. Deram-lhe um cargo de diretor de seleções, quando Teixeira ainda mandava alguma coisa. Chegou Marín e as coisas mudaram. O vice de Marin é o presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), Marco Polo del Nero, com passado ligado à Sociedade Esportiva Palmeiras. Como dois bicudos não se beijam e, após a saída de Mano, Andrés insistiu que Tite, treinador do seu Corinthians, seria a escolha perfeita para substituir Mano. Erro fatal: ontem, o dirigente e Marín chegaram a um acordo e Andrés pediu demissão.

 A CBF não conseguiu enganar ninguém quando disse primeiro que anunciaria o novo treinador "em janeiro de 2013", mudando depois para "quinta-feira", vulgo "hoje". O acordo com Luiz Felipe Scolari já estava sacramentado, pronto, engavetado e esperando o momento exato para que, livre de Mano, Marín pudesse acertar com o treinador que ele e Marco Polo queriam para a seleção. 

Consumatum est, a reboque do acerto, veio Carlos Alberto Parreira, para exercer a função de coordenador. Com oito Copas do Mundo na bagagem - o que, convenhamos, não é pouco, Parreira é um homem viajado, educado, teórico e político. E principalmente, muito mais conhecedor de futebol do que o bronco Andrés Sanches, que exercia, na opinião de muitos, um cargo além do poder que um homem como ele poderia ter dentro dos bastidores do futebol brasileiro. O binômio Felipão-Parreira, mais do que uma combinação "vitoriosa", porque foram os treinadores das duas últimas conquistas do Brasil em Copas, em 94 e 2002, é uma forma de Marín e a CBF lavarem as mãos em público. Disse o presidente da entidade, que aliás cometeu a gafe de chamar Parreira de Antônio Carlos Parreira (à la Roberto Horcades, que chamou Fred de Fábio na apresentação do centroavante no Fluminense em 2009), que "está feita a vontade popular". 

Não, presidente, não está feita a vontade popular. Pior: a CBF joga nas costas de Felipão e Parreira a completa responsabilidade da conquista do hexa. Sabem aquela fala do Capitão Fábio em Tropa de Elite?  "Essa pica não é mais minha. Agora tá na mão do aspira." Pois é... a "pica" agora está nas mãos dos dois que chegam para apagar o incêndio que tomou conta da seleção brasileira.

No fundo, a escolha até pode ter algum fundamento. Felipão é um treinador que se dá bem em competições de tiro curto. Com um Palmeiras de elenco tenebroso, levou no primeiro semestre a Copa do Brasil e levou o alviverde, recém-rebaixado à Série B, de volta para a Libertadores da América. Mas não são poucos os que creditam esse rebaixamento ao trabalho que Scolari (não) fez no segundo semestre. Claro que há uma corrente favorável a pôr toda a culpa na diretoria encabeçada pelo presidente Arnaldo Tirone, que - vamos e venhamos - é um péssimo dirigente. Mas Felipão também deixou o barco correr frouxo, o clima ficou ruim, insustentável e aí é fácil largar o mesmo barco à deriva quando se sabia que a corrente já tinha levado a embarcação palmeirense rumo à Segundona.

E tem mais: o Felipão de 2013/14 não é mais o mesmo de 2002 - com relação a conquistas, porque a metralhadora giratória continua a mesma, repleta de frases de efeito e outras infelizes, como a que ele soltou sobre os funcionários públicos. Quantos títulos após o penta ele conquistou mesmo? E Parreira? Que conquistas relevantes teve como treinador nos últimos tempos? Sem querer tirar os méritos dos dois quando a seleção ganhou Copas do Mundo sob o comando de ambos, insisto: a escolha é um passo atrás da CBF.

O futebol brasileiro, 14º colocado no ranking de seleções da FIFA, nunca atingiu um nível de descrédito tão grande, nem mesmo quando a antiga CBD trocou Aimoré Moreira por João Saldanha - e olha que João Saldanha era jornalista e só tinha sido treinador, de forma 'experimental' no Botafogo, de 1955 a 1959. Uma seleção que prefere enfrentar Gabão, China e outros menos votados a fazer confrontos, como nos velhos e bons tempos, contra potências feito a Argentina de Lionel Messi, a Alemanha de Özil e Götze, a Holanda de Robben e Sneijder e, principalmente, a Espanha cuja filosofia de jogo lembra o Barcelona do mesmo Messi citado linhas acima, só pode estar onde está no futebol internacional.

Há não muito tempo atrás, quem jogava pra frente, de forma envolvente, alegre, objetiva e que encantava a torcida, éramos nós, os brasileiros. E hoje, o que jogamos? O que os nossos treinadores mostram de envolvente, objetivo e alegre em seus times? O Fluminense, embora campeão brasileiro com méritos e uma campanha de números incontestáveis, fez várias partidas onde irritou sua torcida. Venceu várias delas jogando mal, mas é do esporte. E olha que eu sou torcedor do Fluminense, nunca é demais lembrar.

Futebol, hoje, é resultado, bola na rede e três pontos. Que se exploda o placar. Mas poderia haver, como houve noutros tempos, o diferencial, a jogada que vale a pena ser vista e revista, o toque refinado do craque. E o treinador que, na minha concepção, seria perfeito para reimplantar a vocação de futebol bem jogado que sempre tivemos, não era um brasileiro.

Para o meu gosto, Pep Guardiola é que deveria ser chamado para dar uma injeção de moral e ânimo para a seleção brasileira. Hoje, na coletiva de apresentação de Felipão e Parreira, José Maria Marín desdenhou e disse que Guardiola "nunca foi treinador de seleção". Não deixa de estar certo o presidente da CBF. Mas, puxemos pela memória: Dunga fora treinador de seleção, quiçá de clube, antes de assumir após a saída de Parreira e o fracasso na Copa de 2006? E Mano? Tinha credenciais e peso para treinar uma seleção brasileira? Nem Felipão tinha treinado seleção alguma antes de pegar o rabo de foguete em 2001 e conseguir o penta. Só depois disso é que foi treinar Portugal numa Eurocopa e numa Copa do Mundo.

A CBF esqueceu que o futebol brasileiro só experimentou renovações e reinvenções na parte tática com a presença de estrangeiros. Com o WM de Herbert Chapman, introduzido aqui - se não me falhe a memória -  pelo húngaro Dori Kruschner, saímos da idade da pedra para um 3º lugar na Copa da França em 1938. Depois disso, tivemos que pagar tributo ao uruguaio Ondino Vieira, a outro húngaro, Bela Guttman e também ao paraguaio Fleitas "Feiticeiro" Solich.

Não é a toa que a mentalidade de "seleção brasileira dirigida por brasileiros" só foi quebrada uma única vez, com Filpo Nuñez no comando de um Palmeiras travestido de seleção brasileira, que derrotou por 3 x 0 o Uruguai num amistoso em 1965, em Belo Horizonte. Enquanto continuarmos assim, a nossa decadência técnica, tática e competitiva vai ficando cada vez mais latente e o Brasil cada vez mais atrasado e defasado em relação aos seus adversários.

Será que a surra que o Santos levou do Barcelona há quase um ano já não tinha servido de lição? 

Pelo visto, o pessoal quer levar mais porrada para ver onde é que fica o fundo do poço. Se bobear, o futebol brasileiro está bem pertinho dele. É só fracassar mais uma vez - e em casa - para ver o que vão falar da CBF de José Maria Marín e asseclas pós-2014.

É isso.

sábado, 17 de novembro de 2012

O início. O fim. O meio.

“Não importa o quão duro você é. A vida te bate e vai querer te deixar na lona. Mas não se trata de quão forte você pode bater; se trata do quanto você aguenta apanhar e continuar seguindo em pé. É assim que a vitória é conquistada”.
(do filme Rocky Balboa)


Pode soar piegas, mas é assim que devo encarar as coisas. Desde ontem, 16 de novembro, como muita gente já sabe, eu não trabalho mais no SporTV e por consequência, nas Organizações Globo.



Foram nove de 13 anos dedicados ao trabalho intenso dentro do automobilismo, com o extinto Grid Motor, no Linha de Chegada e nas inúmeras corridas que comentei e até narrei, que perdi a conta. Fiz de tudo por lá. De Fórmula 1 ao kart.



Como disse no facebook, não guardo mágoa e nem tristeza. Até porque eu mantenho comigo o que me fez ser respeitado, gostado e admirado por algumas pessoas. O conhecimento, a competência e o amor pelo automobilismo e pelo esporte em geral continuam aqui. São meus bens mais preciosos, depois de tantos anos. Existe uma minoria que pode ter uma falsa impressão a meu respeito. Pois que tenham. Um cara que nunca se importou com ostentações, que nem carro possui, não pode ser taxado de "arrogante", como sei que já fui chamado por aí.



Enfim, é vida que segue. É hora de começar um novo caminho. Uma porta se fechou? Não tem problema: outras se abrirão, no devido tempo, no momento certo.



E enquanto o novo blog A Mil Por Hora (afinal, os textos são meus e o nome é ideia minha) não migra para uma plataforma "independente", volto para onde tudo começou.



É... o Saco de Gatos não morreu. Ele sempre deu um tempo. Sempre esteve aqui quando precisei. Igual à quem deu força nesse momento complicado. Aliás, é nessas horas em que a gente vê quem é amigo. E quem, em contrapartida, não é.



Bom sábado para todos.



PS.: Ah! Meu e-mail passa a ser este: rodrigomattar36@terra.com.br


domingo, 21 de outubro de 2012

+1 DOSE, BARÃO!

Com o cartaz do show ao fundo

Vinte de outubro. Uma noite para a história. Minha e de muita gente sedenta de rock and roll, que foi na Fundição Progresso, na Lapa, reduto da boemia carioca, para ver, celebrar e cantar junto com uma das bandas fundamentais do rock brasileiro: o Barão Vermelho.

Surgido há 30 anos do rompante juvenil de Maurício Barros e Guto Goffi, os dois reais fundadores do grupo, o Barão foi o motor dos petardos poéticos de Cazuza, indicado por Leo Jaime para ser o vocalista, lá por 1982. Os ensaios eram no Rio Comprido, na casa de Maurício e os primeiros shows, caóticos. Mas os Barões tinham energia e pegada nas músicas. E foi essa energia, essa pegada, que cativaram Ezequiel Neves, que conseguiu para eles a abertura de um show de Sandra Sá no Morro da Urca.

Vieram os primeiros discos, os primeiros sucessos, o Rock in Rio I, a debandada de Cazuza, Frejat assumindo os vocais, os problemas com Dé Palmeira, a entrada de Fernando Magalhães e Peninha, a vinda de Dadi, a saída de Maurício e também de Dadi e depois Rodrigo Santos assumindo o baixo... um turbilhão de acontecimentos e o Barão sobrevivendo aos temporais.

Eles experimentaram o apogeu, a queda e o ressurgimento. Pararam quando acharam que tinham que parar. E deixaram nos fãs aquela vontade de vê-los juntos de novo. E aconteceu.

Eu fui na Fundição na qualidade de convidado, "na faixa". Por conta de uma daquelas surpresas do destino, um dos leitores do meu blog A Mil Por Hora, do SporTV, é Duda Ordunha, que trabalha com a banda e já foi produtor do Noites Cariocas. E citado no livro "Vale Tudo" - a ótima biografia de Tim Maia, escrita por Nelson Motta. Um belo dia, chegou um pacote aqui em casa: um livro e um DVD duplo do Barão. Presente do Duda, que num e-mail, certa ocasião, falou: "O Barão deve se reunir para um show que celebrará os 30 anos do grupo. Quer ir?"

Enjeitar um convite destes? Nem de brincadeira...

E na base do RSVP o convite veio.

Os arcos da Lapa iluminados na noite escura

Saí do plantão no sábado e fui para a Lapa. Não é fácil sair da Barra da Tijuca às 22h e se mandar pro Centro do Rio. Mas lá fui eu, sedento de rock and roll e de uma boa cerveja gelada. Fui indicado para a entrada dos convidados e, com o nome na lista, uma menina indagou. "Convidado do Duda, né?". E no saguão dos elevadores, ganhei não só uma pulseira, mas duas, de livre circulação no 5º andar dos camarotes.

Chegando lá dentro, encontro a lenda, o mito Fausto Fawcett - assim como eu, tricolor de quatro costados. Sem ter o que fazer, fiquei zanzando pelo espaço, bebendo uma cervejinha esperta, até que o Duda apareceu. "Bem-vindo. Está sendo bem tratado? Fique à vontade!" Não podia estar mais à vontade. Melhor que isso, só se eu pudesse descer e ver os Barões de perto ao fim do show, que prometia muito.

O espaço para o público na pista e numa espécie de arquibancada foi enchendo aos poucos e a abertura coube aos Autoramas, banda do Gabriel Thomaz, ex-Little Quail and The Mad Birds e do Bacalhau, antigo batera do Planet Hemp. Show enxuto, honesto, legal de acompanhar. Muito barulho para um grupo com três integrantes - a baixista é uma mulher, Flavia Couri.

E nisso começou o horário de verão. Pra lá de 1h da manhã, com a excitação da plateia a mil após um breve intróito de Perfeito Fortuna, que acolheu na lona do Circo Voador (em tempos de Arpoador, diga-se) o Barão nos seus primórdios, o grupo estava pronto. Os primeiros riffs de guitarra detonados por Frejat e Fernando Magalhães foram a senha para a explosão - no bom sentido - do público. "Por que a gente é assim?", da famosa frase 'Mais uma dose!', abriu os trabalhos, seguida por "Ponto Fraco" e "Pense e dance". Rock do bom, rock na veia da rapaziada e da mulherada. E sem tirar de dentro!

Essa era minha visão do alto, do 5º andar

Um mix de rocks dos primeiros tempos do Barão, como "Menina Mimada", "Billy Negão" e músicas mais recentes - "Cuidado", "Carne de Pescoço" e "Meus bons amigos" - foram capazes de manter o nível do show até chegar a parte onde os violões e a emoção tomarem conta da plateia, que cantou junto com Frejat em "Por você" e se emocionou na hora em que Cazuza foi homenageado, na execução da 'inédita' "Sorte e Azar", de "O Poeta está vivo" e da maravilhosa "Todo amor que houver nesta vida".

Caju não foi o único lembrado da noite. Renato Russo também, com a versão do Barão para "Quando o sol bater na janela do seu quarto". E não podia faltar o pai do rock brasileiro, Raul Seixas, com sua "Tente outra vez" cantada em uníssono.

E com a plateia ganha, foi barbada para Frejat e cia. levarem a Fundição abaixo com "Bete Balanço", "Vem quente que eu estou fervendo", "Malandragem dá um tempo", "Maior abandonado", "Down em mim", "Pro dia nascer feliz", "O Tempo não para" e o apoteótico final com "Satisfaction", emulando o encerramento do CD ao vivo gravado no Dama Xoc nos anos noventa.

Entrementes, no momento onde saí para tirar uma água do joelho, encontro de novo o Duda. Morrendo de curiosidade, pergunto se após o término do show vou poder entrar no backstage e ele logo responde que a pulseira vermelha que eu tinha - além de uma outra laranja - dava livre acesso aos bastidores após o show. Quase caí pra trás quando soube que ia ver as feras do Barão de pertinho!

Celebrando com Fernandão Magalhães. ROCK AND ROLL!

E lá fui eu... que como muitos, acabei barrado por um segurança e depois com a entrada liberada pela intervenção salvadora do Duda. Não demorou muito e os Barões apareceram, um por um. Com exceção do Maurício Barros, com quem não consegui falar, agradeci pelo show, pela volta do grupo e tirei fotos com todos: Guto, Peninha, Fernando, meu xará Rodrigo e Frejat. De bônus, uma foto com Fausto Fawcett. E ainda tive o prazer de reencontrar outro xará meu: Rodrigo Pinto, ex-aluno da ECO/UERJ e biógrafo do Barão Vermelho.

Saí inebriado, em êxtase, depois dessa celebração ao Barão e ao bom rock and roll lá por cinco horas da manhã, meio perdido no tempo e no espaço. A muito custo consegui um táxi e voltei para a Tijuca feliz por fazer parte de um momento tão especial na trajetória de um grupo que fez parte de 30 anos da minha vida.

+1 DOSE, BARÃO!

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Fosfosol - o dia em que o Fluminense ganhou dos "campeões do mundo"

Sempre existirá um engraçadinho que vai tentar, com uma chacota aqui e alhures, diminuir a história do "Retumbante de Glórias". O Fluminense incomoda. Sempre incomodou. E agora que sabemos que Bayern de Munique e Chelsea farão a final da UEFA Champions League na Allianz Arena, no sábado dia 19 de maio, me veio à mente que somente um clube dos 16 que avançaram para as fases de "mata-mata" da Libertadores da América jogou contra o vitorioso clube alemão.

O ano de 1975 marcou um divisor de águas na história do Fluminense. O juiz de direito Francisco Cavalcanti Horta, um vibrante e apaixonado sócio do clube, se tornara presidente e, numa cartada audaciosa, tirou Rivellino do Corinthians por Cr$ 3 milhões, uma soma astronômica, a maior transação do futebol brasileiro naquela época.

"Rivellino é só o primeiro. Virão muitos craques mais para o tricolor", prometia Horta. E vieram: Zé Mário, que comprou seu próprio passe vinculado ao Flamengo com dinheiro dado pelo próprio Horta; o polêmico e talentoso ponteiro-esquerdo Mário Sérgio, o "Calibre 38" (porque andava armado); o veloz e impetuoso "Búfalo" Gil - todos vieram se integrar a um elenco que tinha os campeões de 73 Félix, Toninho Baiano, Cléber, Assis, Marco Antônio, Silveira e Manfrini, além de um projeto de craque, Carlos Alberto "Pintinho", um cabeça-de-área tremendamente promissor.

Quando o Flu foi disputar pela primeira vez o Torneio Internacional de Paris, a convite de Daniel Hechter, então presidente do Paris Saint-Germain, Horta convenceu o presidente do Olympique Marseille a vender Paulo César Lima, o Pôl Cezár dos franceses, o Caju das louras gostosas, o craque tido como arrogante, narcisista, mas muito bom de bola. Estava formada a Máquina.

E para mostrar que essa Máquina estava azeitada e tinha poder de fogo, Horta marcou um amistoso contra ninguém menos que o FC Bayern München, o Bayern de Munique, o maior clube alemão e da Europa na época, como provado no bicampeonato europeu em 1974/1975, conquistado em vitórias sobre o Atlético de Madrid por 4-0 na final em 74 e os 2-0 sobre o Leeds United em 75.

Além disto, o Bayern respondia por meio time da seleção alemã que, comandada por Helmut Schön, derrotou o mítico Carrossel Holandês de Rinus Michels, Cruyff, Neeskens, Rep e Rensenbrink por 2-1 na final da Copa de 74. Basta dizer que o Kaiser Franz Beckenbauer era titular deste Bayern, assim como o goleiro Sepp Maier, o letal atacante Gerd Müller, além do zagueiro Schwarzenbeck e do atacante Kapellmann, convocados por Schön para o Mundial de seleções.

O público anunciado pelos alto-falantes do Maracanã, palco do jogo disputado em 10 de junho de 1975, foi de mais de 60 mil pagantes. Mas muita gente entrou sem ingresso e não é exagero dizer que quase 100 mil torcedores assistiram ao confronto da Máquina contra o maior time europeu daqueles tempos.

O Fluminense alinhou com Félix, Toninho Baiano, Silveira, Assis e Marco Antônio; Zé Mário e Kléber; Cafuringa, Rivellino, Paulo César Caju e Mário Sérgio. Agora, notem bem o timaço do Bayern: Sepp Maier, Durnberger, Schwarzenbeck, Franz Beckenbauer e Weiss; Roth,Törstensson e Karl-Heinz Rummenigge; Zöbel, Gerd Müller e Kapellmann.

Muito bem: dada a saída, o tricolor logo apresentou seu cartão de visitas. Com menos de 10 minutos de jogo, Rivellino deu um daqueles 'elásticos' que deixaram a zaga bávara sem ação. Logo depois, o "Curió das Laranjeiras" deixou Kléber na cara do gol e era só o garoto faturar para cima de Sepp Maier. Mas, num dos perversos acasos do destino, Gerd Müller, que ajudava na defesa, tentou cortar e fez contra. Logo ele, artilheiro de dois Mundiais somando 14 gols. E logo um gol contra? Fluminense 1-0 Bayern.

A partida prosseguiu e o Fluminense agressivo, insinuante. O Bayern, apenas se defendendo, acuado. Sepp Maier pegou até pensamento no Maracanã, numa grande atuação de O Gato, como o lendário goleiro era conhecido. E Cafuringa, o folclórico ponteiro-direito tricolor, fez uma partida memorável, entortando impiedosamente o lateral-esquerdo Weiss. Por seu turno, Mário Sérgio fez gato e sapato de Durnberger na extrema-esquerda, numa atuação que provocou derramados elogios do presidente Horta, jogado ao chuveiro de terno e tudo no vestiário, quando fora cumprimentar o irreverente atacante tricolor.

O placar de 1-0 não traduz a enorme superioridade que o elenco brasileiro impõs sobre o poderoso Bayern. Era apenas um amistoso? Não importa. O Fluminense não ganhou um Brasileiro com a Máquina, que nunca disputou uma Libertadores?

E daí?

Vencemos o melhor time da Europa, que aliás e a propósito, se consagraria tricampeão continental derrotando o Saint-Etienne em 12 de maio de 1976 e que derrotaria o Cruzeiro na disputa do Mundial de Clubes, no fim daquele mesmo ano.