Improviso, criatividade e muita competência. Em estúdio ou desempenhando ao vivo, no palco, o Cream ganhava mais e mais a admiração dos fãs e dos músicos que posteriormente consideraram os três músicos como uma grande influência. Mas depois de dois trabalhos, o grupo já começava a se afundar na auto-suficiência e num mar de drogas.
Mesmo assim, em 1968 veio à luz um dos álbuns mais representativos do blues e do rock and roll daqueles tempos: Wheels of Fire (Rodas de Fogo) tem alguns dos maiores "cavalos de batalha" do Cream em toda a sua existência, divididos entre um álbum de estúdio e outro ao vivo. A começar por "White Room" - que junto com "Sunshine of Your Love" está incluída entre as melhores canções compostas pela dupla Jack Bruce / Pete Brown.
As covers de antigos blues eram ainda obrigatórias, como provado em "Sittin' On Top Of The World" (Howlin' Wolf) e "Born Under a Bad Sign" (Booker T. Jones / William Bell). Ginger Baker trouxe junto com um novo parceiro, Mike Taylor, nada menos que três composições: a estranha "Pressed Rat And Warthog", que só seria executada ao vivo pela primeira vez no histórico show de reunião do grupo em 2005; "Passing The Time", com diferentes mudanças de ritmo; e a excepcional "Those Were The Days", onde se sobressai o baixo distorcido de Jack Bruce e os sinos tocados ao fundo por Baker e pelo produtor Felix Pappalardi.
Jack Bruce volta aos tempos da Graham Bond, tocando violoncelo em "As You Said", criando o climão básico para o ouvinte viajar na letra melancólica. A parceria Bruce / Brown ainda dá as caras na lírica "Deserted Cities Of The Heart" e em "Politician", mais uma canção engajada do grupo. Se em "Take It Back", o mote era a Guerra do Vietnã, nesta o alvo eram os políticos, como bem dito no verso inicial: Hey now baby... get into my big black car... I wanna just show you what my politics are.
O disco ao vivo, intitulado como Live At The Fillmore, embora dos shows realizados no lendário teatro só tenha mesmo uma gravação (as outras foram feitas no Winterland), é simplesmente espetacular. "Crossroads", de Robert Johnson, tem sua leitura definitiva graças a uma performance histórica de Eric Clapton, que esmerilha a música empunhando sua Gibson Les Paul. Outro blues "das antigas", "Spoonful", de Willie James Dixon, mereceu uma releitura repleta de solos, viagens e toda a sorte de improvisos.
A gaita de Jack Bruce dá o tom e dita o ritmo em "Traintime", enquanto Ginger Baker faz em "Toad" um monstruoso solo que provavelmente serviu de inspiração para John Bonzo Bonham e a sua extraordinária "Moby Dick".
O disco, cuja capa foi mais um projeto gráfico do australiano Martin Sharp, foi listado pela Rolling Stone como o 203º melhor entre os 500 álbuns mais representativos de todos os tempos.
Será mesmo que Wheels Of Fire merece posição tão modesta?
Ficha Técnica de Wheels Of Fire
Selo: Polydor / Polygram
Gravado entre julho de 1967 e abril de 1968 nos Estúdios Atlantic em Nova York
Produção: Felix Pappalardi
Tempo total: 81'44"
Músicas:
Disco de estúdio
1. White Room (Jack Bruce / Pete Brown)
2. Sittin' On Top Of The World (Howlin' Wolf)
3. Passing The Time (Ginger Baker / Mike Taylor)
4. As You Said (Jack Bruce / Pete Brown)
5. Pressed Rat And Warthog (Ginger Baker / Mike Taylor)
6. Politician (Jack Bruce / Pete Brown)
7. Those Where The Days (Ginger Baker / Mike Taylor)
8. Born Under A Bad Sign (Booker T. Jones / William Bell)
9. Deserted Cities Of The Heart (Jack Bruce / Pete Brown)
Disco ao vivo
1. Crossroads (Robert Johnson)
2. Politician (Willie James Dixon)
3. Traintime (Jack Bruce)
4. Toad (Ginger Baker)
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