domingo, 15 de outubro de 2006

Um Épico em Duas Rodas

Não tenho como não falar do GP de Portugal de Motovelocidade. E lamentar, por tabela, que o Brasil esteja alijado do calendário por conta de uma decisão absurda de erguer um complexo poliesportivo naquele que era o melhor autódromo da América do Sul.

Enfim, vamos em frente.

A corrida que se realizou no circuito de Estoril foi um momento épico. Digno dos grandes escritores portugueses, como Luís de Camões e Eça de Queiroz.

O autor de "Os Lusíadas" certamente se congraçaria com o espetáculo que foi a penúltima etapa da MotoGP. Uma corrida que teve de tudo: drama, choro, torrentes de palavrões, acidentes e um momento primoroso de um piloto.

Não, amigos, não foi obra de Valentino Rossi.


Toni Elias, sobrinho do antigo piloto de motocross Jordi Elias, que correu por aqui na lendária equipe Amparo montada pelo compatriota Pedro Faus, conquistou no Estoril a primeira vitória da carreira na categoria máxima - e com uma grande dose de competência, categoria e muita garra.

Largando em décimo-primeiro, ele foi beneficiado pela hecatombe que em menos de 10 voltas tirou cinco competidores do seu caminho. O primeiro, já na primeira volta, foi Shinya Nakano.

Depois, Casey Rolling Stoner se estabacou e levou Sete Gibernau junto.

Mas o pior ainda estava por vir. Não para Toni Elias - e nem para Valentino Rossi, é claro. E sim para Nicky Hayden.

Imagine a seguinte situação: uma equipe tem dois pilotos - um na ponta da tabela e o outro em quinto no campeonato. A duas provas do fim, o chefe de equipe toma a estapafúrdia decisão de liberar ambos para vencerem a qualquer custo. Um deles não entende o recado e... pimba! Acaba com a corrida do próprio companheiro de equipe!!!!!!!!!!!!

Foi exatamente o que aconteceu: Daniel Triste Pedrosa tentou uma ultrapassagem otimista - e homicida - sobre Nicky Hayden. Sua moto pegou a faixa branca da zebra, o que é fatal pois ali a aderência é zero. Os dois colidiram e abandonaram.

Fica na memória a imagem de Hayden esmurrando a brita, chorando copiosamente e gritando os mais cabeludos palavrões em inglês para o próprio companheiro de equipe - guerra à vista em 2007...

Elias, que subiu para quinto, fez que não era com ele. Ignorou Colin Edwards e Marco Melandri, seu companheiro de equipe. E junto com Kenny Roberts (outra grande figura da corrida) foram buscar o líder Rossi.

A última volta é digna de filme de suspense. Roberts bobeou porque pensou que era a penúltima volta (alegou não ter visto a placa de sinalização) e aliviou. Resultado: Elias botou a RC211V de lado e cometeu uma dupla e espetacular ultrapassagem, pegando a ponta.

Rossi buscou forças, deu o troco duas vezes no miolo, mas o espanhol, numa trajetória tão inesperada quanto agressiva, entrou na Parabólica com tudo e derrotou o multicampeão por apenas 0s002. Isso mesmo... dois milésimos de segundo! Que vitória inacreditável, amigos e amigas!

Em suma: foi lindo. Um daqueles momentos do esporte que ficam para todo o sempre na memória.

E como eu ainda tenho a minha bem privilegiada, guardarei esse momento para sempre.

3 comentários:

Anônimo disse...

Essa foi de doer, o clima no HRC deve estar maravilhoso!
Fiquei contente com a bela atuação do Roberts Jr que foi campeão em 2000 e andava esquecido por ter ficado muito tempo na vagarosa Suzuki ,que por sinal melhorou um pouquinho esse ano ,mas acho que já faz 5 anos que a marca não vence no mundial.
E quanto ao Toni Elias ,primeira vitoria dessa maneira !E pro rapaz não esquecer nunca mais ,sensacional!!

Jonny'O

Anônimo disse...

Essa corrida foi um épico realmente com um desfecho daqueles de prender a respiração tanto que após a chegada Elias e Rossi meio que se entreolham sem saber quem tinha de fato chegado em primeiro, com certeza essa figurará entre as grandes corridas da categoria.

Anônimo disse...

Além de poder contar para os netos que estava na emissora produzindo a transmissão dessa histórica prova, um lance muito bacana me aconteceu neste domingo: pude, como de costume, conversar com o narrador Sérgio Maurício ao fim da corrida. E o mais legal foi ver sua empolgação, sua 'vibe' com o que tinha acontecido na pista. É nessas horas que a gente percebe que a emoção é verdadeira, que aquilo que ele passa para quem está em cada assistindo é absolutamente real. Convenhamos... narrando uma corrida dessa, como não se emocionar?