segunda-feira, 16 de outubro de 2006

25 anos de um momento glorioso

Como lembro bem deste dia!

17 de outubro de 1981. Fim de tarde. Calor no Rio de Janeiro. Cinco horas, hora de ligar a TV na Globo e assistir à decisão do Campeonato Mundial de Fórmula 1.

Na briga pelo título, três pilotos: o argentino Carlos Reutemann, 41 anos, buscando desesperadamente uma conquista para se juntar à Fangio na galeria dos campeões portenhos;

o brasileiro Nelson Piquet, talentoso e promissor piloto de 29 anos;

e outro veterano das pistas, Jacques Laffite, 38 anos de idade.

Reutemann tinha 49 pontos, Piquet 48 e Laffite 43. Bem próximos estavam Alain Prost e Alan Jones, mas o máximo que conseguiriam caso vencessem era o terceiro lugar na tabela.

Aquele campeonato de 1981 era mesmo complicado - e emocionante.

Lembro de tudo, ou melhor, de quase tudo. Cenas que passeiam na minha cabeça como um filme de final feliz.

Eu fui em Jacarepaguá e me frustrei, como os mais de 40 mil torcedores que pegaram chuva, com a tática infeliz de Nelson Piquet em largar com pneus slicks numa pista encharcada. Ele chegou em 12º e o Reutemann - aquele argentino pentelho - venceu.





Mas havia tempo para reagir e Piquet deu um show em Buenos Aires e San Marino. Pena que depois disso pintou um puta inferno astral. Ele sofreu três acidentes em seqüência, foi sacaneado na França graças a uma patriotada que impediu o final da prova na distância mínima regulamentar - obrigado a disputar uma segunda parte da prova, o brasileiro foi bloqueado por Didier Pironi e Alain Prost venceu.

Lembro também de, num sábado pela manhã, começar empolgado a assistir o GP da Inglaterra e me frustrar com a batida do Nelson e principalmente com a sorte que o Reutemann tinha pois, numa prova onde quase todo mundo quebrou, ele chegou em segundo, atrás do John Watson.

Mas não tinha nada não. Piquet fez uma boa poupança, vencendo em Hockenheim, chegando em segundo na Holanda e em terceiro na Áustria. Nessas três provas, Reutemann fez apenas uma quinta posição e a distância entre eles, que era de 17 pontos, inexistia após Zandvoort.

E aí veio o GP da Itália, com nova frustração para o brasileiro: motor estourado na última volta... Mas logo na última volta, pombas?!?!

E Reutemann voltou a abrir vantagem. Três pontos exatos.

Que caíram para um no encharcado GP do Canadá, onde nunca sai da minha mente o show que Gilles Villeneuve deu com uma Ferrari absurdamente desequilibrada, sem spoiler dianteiro e patinando muito na água, com tanta potência do motor turbo. O canadense era daqueles pilotos que valia o preço do ingresso.

Piquet chegou em quinto no circuito de Montreal e chegou a Vegas confiante em chegar ao título apesar de um torcicolo que o incomodou nos treinos. O terceiro tempo o deixou otimista, mas Reutemann era o pole position.

Então, naquele sábado glorioso, Luciano do Valle abriu a transmissão junto com Reginaldo Leme e a corrida começou. Reutemann logo perdeu posições para Jones e Prost. Piquet, cauteloso, esperou o momento certo para dar o bote em cima do rival.

Na décima-sétima volta, após ensaiar por três vezes e diversas curvas a ultrapassagem, estudando as linhas do portenho no circuito montado no estacionamento do Caesars Palace, Piquet partiu para dentro e ultrapassou Reutemann.

Com um carro ruim de freios e câmbio, o argentino foi perdendo posições, arrastando-se para terminar em oitavo - uma odisséia que lembrou proporcionalmente o desastre de Clay Regazzoni na decisão do título de 74 contra Emerson Fittipaldi.

A esta altura, o meu falecido pai (que, acreditem, torcia para o Reutemann... ê homem do contra...) já se retirara com sua cervejinha e foi pra um boteco perto de casa pra beber mais. E eu continuei grudado na telinha, vibrando com o título cada vez mais próximo.

Com requintes de crueldade, Nelson tirou o pé nas voltas finais. Permitiu que Bruno Giacomelli e Nigel Mansell o ultrapassassem. O quinto lugar já bastava para a festa. E foi o que aconteceu. Piquet, com a Brabham-Cosworth número 5, com a lendária programação visual dos laticínios italianos Parmalat, chegou nessa posição e conquistou o título.

Cumpria-se naquela tarde-noite para nós, brasileiros, a impressionante profecia de Dave Simms, chefe da minúscula equipe BS Fabrications, pela qual Nelson Piquet competira em 1978 por três corridas, ao volante de um McLaren semelhante ao que Emerson fora campeão em 74.

"Aposto todo o meu dinheiro e com quem quiser, que Nelson Piquet será campeão em três anos."

Ficou também na memória a tentativa frustrada da entrevista logo após a corrida, onde Reginaldo Leme e o câmera da Globo foram recebidos por Nelson com um grito gutural, talvez a forma primal que o novo campeão mundial de 1981 encontrou para extravasar a tensão provocada por uma decisão onde os nervos estavam à flor da pele.

Depois, já de coroa de louros na cabeça e champagne estourada, caiu a ficha e Piquet chorou muito com os velhos amigos de Brasília e seus grandes chapas na F-1: os mecânicos da Brabham.


E eu também chorei.

25 anos depois, é chegada a hora de agradecer esse momento maravilhoso. Não tínhamos um brasileiro campeão desde Emerson Fittipaldi e o fim do jejum foi muito festejado por quem realmente gosta de automobilismo.

Obrigado Nelson Piquet, por ser um grande campeão do esporte brasileiro - mesmo que teimem em negar o seu talento, que é eterno.

Ontem, hoje e sempre.

10 comentários:

Anônimo disse...

Pô Mattar !!Não deixou nada pra gente contar, vc falou tudo!
Claro que recordo perfeitamente desse dia,e que dia!
Além de tudo o Piquet corria com aquela maravilhosa BT49 com sua suspensão com tirantes que davam um novo aspecto bem mais moderno aos carros,mais limpo,linda linda!
Valeu!

Jonny'O

Anônimo disse...

Parabéns para o nosso automobilismo por ter um cara do nível do Piquet nos representou tão bem durante mais de duas décadas. Infelizmente o que vale hoje em dia é só o marketing e não o que a pessoa é. Hoje não temos ninguém que cheque perto desse senhor de Brasília em personalidade e talento.

Grande texto!!!

Anônimo disse...

é essa vale a pena ver de novo !

ainda tenho essa comigo !

nessa época gostava das Alfa apesar delas parecerem meio pesadonas e "gorduchas" hehehe.

abraço a todos

Anônimo disse...

Sorte do Piquet que não era o Luis Di Palma, o melhor piloto argentino depois de Fangio (na minha humilde opinião). Lembro-me de uma entrevista do Reginaldo Leme em que ele recordava o estado de tensão do Piquet antes da prova. O grito primal nada mais foi que a liberação daquela tensão represada.Ignorar o talento, ousadia e criatividade do Piquet só para rematados idiotas. Há muitos por aí, que só se recordam (ou viram) o Senna. Azar o deles, perderam um dos maiores mestres que a F-1 já viu.

Anônimo disse...

Parabéns pelo excelente texto.

Anônimo disse...

linda a homenagem!!!!!!!.....n deixou passar nd......ta de parabéns.....pois o Nelson merec comentarios assim!!!......infelizmente n tive a mesma sorte q vc teve em ver esse titulo e os outros.....+ graças a Deus a internet me salva.....kkkkkk
valeu Nelson!!!!!
obs: adorei as fts, se encaixaram bem com o seu comentario!!!!

Rodrigo Mattar disse...

É por isso que eu sempre digo... Piquet foi o cara! E que bom que não estou sozinho na admiração ao tricampeão.
Vida longa ao velho Piquet e vida longuíssma aos novos Piquet - Nelson Ângelo e Pedrinho.

Hurricane disse...

Por supuesto que yo, como fanático de Reutemann, recuerdo con mucho dolor aquel día. Pero les envío a mis hermanos brasileños un gran abrazo.
Saludos

Anônimo disse...

Eu tinha 8 anos no dia dessa corrida mas me lembro!!! Respeito os outros pilotos brazucas, mas o Piquet foi quem me fez definitivamente gostar de F1!!! Foi um título "trabalhado" em cada corrida, com um carro que não era superior aos dos rivais!! Parabéns ao Rodrigo pelo texto e ao Piquet... pelos 25 anos!! Sorte de quem o viu correr!!

Anônimo disse...

Lá do MSN, Piquet é o cara!
Valeu Rodrigo!