O esportivo felizmente preencheu uma lacuna que há muito tempo andava aberta graças a falta de uma publicação de qualidade, tanto visual como de cunho jornalístico.
Chegou por estas plagas a revista F1 Racing, sob responsabilidade da Interamerican Press que lançara o mesmo título na Colômbia. E convenhamos: para um país com oito títulos mundiais na categoria máxima, mesmo que depois de 10 anos após o lançamento da publicação original no exterior, é uma novidade muito bem-vinda.
No primeiro número, o virtual campeão de 2006 Fernando Alonso domina a cena. Há boas matérias, como a derrocada de Montoya; um apanhado do "poder jovem" que tomará conta da categoria com a aposentadoria de Michael Schumacher; a polêmica entrevista com Jacques Villeneuve - onde o canadense campeão mundial em 97 detonou todo mundo; e um perfil de Bruno Senna que, convenhamos, só aumentou o lote de forçadas de barra na comparação entre ele e o tio Ayrton.
Em suma: mesmo com algumas 'bolas fora', a revista é muito boa e tem mercado e público pra emplacar por aqui.
A outra novidade não é bem uma novidade, pois em plenos anos de chumbo, já esteve por aqui em 36 breves e 'delirantes' edições - como bem definiu em seu livro Noites Tropicais o grande Nelson Motta.
Trata-se da edição nacional da Rolling Stone, que em sua primeira capa nos anos 70 teve ninguém menos que Gal Costa - então magérrima e musa das Dunas do Barato no Posto 9 de Ipanema. Naquela época, de vazio imenso graças ao 'fim do sonho' decretado por John Lennon e o auge da ditadura militar com o Governo Médici, o surgimento da Rolling junto com a escrachada turma do Pasquim foram um grande alento, um sopro de inteligência num país cultural e esteticamente sufocado por homens de farda.
A revista tinha, em média, 30 mil leitores por mês - o que a ser verdade era um número excepcional para tal época - e tinha entre seus inúmeros colaboradores o elétrico Ezequiel Neves, que assinava uma coluna com o pseudônimo de Zeca Jagger, além do poeta Chacal e das penas brilhantes de Tarso de Castro, Rogério Duarte, Tite de Lemos e os novatos Zé Emílio Rondeau e Ana Maria Bahiana.
Todos coordenados por Luiz Carlos Maciel, tido e havido como um dos papas da contracultura com seus ótimos artigos n'O Pasquim e que fora arrebanhado por um americano doidaço que introduziu a RS no Brasil: Mick Killinbeck.
Foi ele o autor, inclusive, de matérias e entrevistas históricas como a de Caetano Veloso nos tempos do exílio em Londres, logo no número 1, com a capa dizendo o seguinte: "Caetano está entre nós". Eclética, a versão tupiniquim da Rolling teve capas com Hermeto Paschoal e o maestro soberano Tom Jobim e entrevistas até com o Rei do Baião Luiz Gonzaga, by Capinam.
E para mostrar que não vieram a passeio, os responsáveis pela revista no Brasil investiram pesado. Ao contrário do que aconteceu nos anos 70, os direitos de reprodução foram negociados de forma perfeita e a revista mostra, em seu primeiro número, o ecletismo que dela se esperava - e que é a marca de sua similar americana, como provado na homenagem às dez capas mais significativas dos últimos anos.
Os destaques do retorno da Rolling Stone em português são uma ótima matéria sobre as Eleições, um perfil sensacional do grande Jack Nicholson e ninguém menos que Bob Dylan na intimidade. Sem contar, é claro, a presença loira de Gisele Bundchen, tida e havida na capa como "a maior popstar brasileira".
Se é a maior, eu não sei. Mas que a Rolling Stone veio pra ficar, isso não resta dúvidas. E as seções básicas não faltam: crônicas de shows, discos, resenhas de livros e DVDs. Em suma:
Bem-vinda Rolling Stone!
E bem-vinda também, F1 Racing!
2 comentários:
Excelente!
Ora, finalmente um pouco de vida inteligente por estas plagas. Que seja benvinda a Rolling Stone, desde que seja pelo menos algo próximo do que foi outrora. Quanto à F1 racing, que não seja mais uma publicação à base de press releases e matérias pagas como as que abundam (êpa, êpa!!)por aqui. Aliás, jornalismo especializado no Brasil, no caso de automobilismo, se tornou uma praga: repórter nenhum vai á cata de notícias; hoje o pessoal sobrevive de releases fornecidos por assessorias de imprensas previsíveis e assépticas.Formação técnica ou o mínimo de cultura automobilística, então, é exigir demais. Daí, o mar de excrecências (pra não dizer algo mais próximo do vernáculo)que somos obrigados a engolir por uma malta de despreparados e descuidados com a matéria principal que lidam que é a informação. De uma geração de especializados há muito acomodada, resta muito poucos que já beiram a senilização, refestelados em redes nacionais de TV ou jornais de grande circulação. Desculpe o desabafo, há exceções é claro, mas poucas, muito poucas.
Postar um comentário