O ano de 1975 marcou um divisor de águas na história do Fluminense. O juiz de direito Francisco Cavalcanti Horta, um vibrante e apaixonado sócio do clube, se tornara presidente e, numa cartada audaciosa, tirou Rivellino do Corinthians por Cr$ 3 milhões, uma soma astronômica, a maior transação do futebol brasileiro naquela época.
"Rivellino é só o primeiro. Virão muitos craques mais para o tricolor", prometia Horta. E vieram: Zé Mário, que comprou seu próprio passe vinculado ao Flamengo com dinheiro dado pelo próprio Horta; o polêmico e talentoso ponteiro-esquerdo Mário Sérgio, o "Calibre 38" (porque andava armado); o veloz e impetuoso "Búfalo" Gil - todos vieram se integrar a um elenco que tinha os campeões de 73 Félix, Toninho Baiano, Cléber, Assis, Marco Antônio, Silveira e Manfrini, além de um projeto de craque, Carlos Alberto "Pintinho", um cabeça-de-área tremendamente promissor.
Quando o Flu foi disputar pela primeira vez o Torneio Internacional de Paris, a convite de Daniel Hechter, então presidente do Paris Saint-Germain, Horta convenceu o presidente do Olympique Marseille a vender Paulo César Lima, o Pôl Cezár dos franceses, o Caju das louras gostosas, o craque tido como arrogante, narcisista, mas muito bom de bola. Estava formada a Máquina.
E para mostrar que essa Máquina estava azeitada e tinha poder de fogo, Horta marcou um amistoso contra ninguém menos que o FC Bayern München, o Bayern de Munique, o maior clube alemão e da Europa na época, como provado no bicampeonato europeu em 1974/1975, conquistado em vitórias sobre o Atlético de Madrid por 4-0 na final em 74 e os 2-0 sobre o Leeds United em 75.
Além disto, o Bayern respondia por meio time da seleção alemã que, comandada por Helmut Schön, derrotou o mítico Carrossel Holandês de Rinus Michels, Cruyff, Neeskens, Rep e Rensenbrink por 2-1 na final da Copa de 74. Basta dizer que o Kaiser Franz Beckenbauer era titular deste Bayern, assim como o goleiro Sepp Maier, o letal atacante Gerd Müller, além do zagueiro Schwarzenbeck e do atacante Kapellmann, convocados por Schön para o Mundial de seleções.
O público anunciado pelos alto-falantes do Maracanã, palco do jogo disputado em 10 de junho de 1975, foi de mais de 60 mil pagantes. Mas muita gente entrou sem ingresso e não é exagero dizer que quase 100 mil torcedores assistiram ao confronto da Máquina contra o maior time europeu daqueles tempos.
O Fluminense alinhou com Félix, Toninho Baiano, Silveira, Assis e Marco Antônio; Zé Mário e Kléber; Cafuringa, Rivellino, Paulo César Caju e Mário Sérgio. Agora, notem bem o timaço do Bayern: Sepp Maier, Durnberger, Schwarzenbeck, Franz Beckenbauer e Weiss; Roth,Törstensson e Karl-Heinz Rummenigge; Zöbel, Gerd Müller e Kapellmann.
Muito bem: dada a saída, o tricolor logo apresentou seu cartão de visitas. Com menos de 10 minutos de jogo, Rivellino deu um daqueles 'elásticos' que deixaram a zaga bávara sem ação. Logo depois, o "Curió das Laranjeiras" deixou Kléber na cara do gol e era só o garoto faturar para cima de Sepp Maier. Mas, num dos perversos acasos do destino, Gerd Müller, que ajudava na defesa, tentou cortar e fez contra. Logo ele, artilheiro de dois Mundiais somando 14 gols. E logo um gol contra? Fluminense 1-0 Bayern.
A partida prosseguiu e o Fluminense agressivo, insinuante. O Bayern, apenas se defendendo, acuado. Sepp Maier pegou até pensamento no Maracanã, numa grande atuação de O Gato, como o lendário goleiro era conhecido. E Cafuringa, o folclórico ponteiro-direito tricolor, fez uma partida memorável, entortando impiedosamente o lateral-esquerdo Weiss. Por seu turno, Mário Sérgio fez gato e sapato de Durnberger na extrema-esquerda, numa atuação que provocou derramados elogios do presidente Horta, jogado ao chuveiro de terno e tudo no vestiário, quando fora cumprimentar o irreverente atacante tricolor.
O placar de 1-0 não traduz a enorme superioridade que o elenco brasileiro impõs sobre o poderoso Bayern. Era apenas um amistoso? Não importa. O Fluminense não ganhou um Brasileiro com a Máquina, que nunca disputou uma Libertadores?
E daí?
Vencemos o melhor time da Europa, que aliás e a propósito, se consagraria tricampeão continental derrotando o Saint-Etienne em 12 de maio de 1976 e que derrotaria o Cruzeiro na disputa do Mundial de Clubes, no fim daquele mesmo ano.
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