Com o cartaz do show ao fundo
Vinte de outubro. Uma noite para a história. Minha e de muita gente sedenta de rock and roll, que foi na Fundição Progresso, na Lapa, reduto da boemia carioca, para ver, celebrar e cantar junto com uma das bandas fundamentais do rock brasileiro: o Barão Vermelho.
Surgido há 30 anos do rompante juvenil de Maurício Barros e Guto Goffi, os dois reais fundadores do grupo, o Barão foi o motor dos petardos poéticos de Cazuza, indicado por Leo Jaime para ser o vocalista, lá por 1982. Os ensaios eram no Rio Comprido, na casa de Maurício e os primeiros shows, caóticos. Mas os Barões tinham energia e pegada nas músicas. E foi essa energia, essa pegada, que cativaram Ezequiel Neves, que conseguiu para eles a abertura de um show de Sandra Sá no Morro da Urca.
Vieram os primeiros discos, os primeiros sucessos, o Rock in Rio I, a debandada de Cazuza, Frejat assumindo os vocais, os problemas com Dé Palmeira, a entrada de Fernando Magalhães e Peninha, a vinda de Dadi, a saída de Maurício e também de Dadi e depois Rodrigo Santos assumindo o baixo... um turbilhão de acontecimentos e o Barão sobrevivendo aos temporais.
Eles experimentaram o apogeu, a queda e o ressurgimento. Pararam quando acharam que tinham que parar. E deixaram nos fãs aquela vontade de vê-los juntos de novo. E aconteceu.
Eu fui na Fundição na qualidade de convidado, "na faixa". Por conta de uma daquelas surpresas do destino, um dos leitores do meu blog A Mil Por Hora, do SporTV, é Duda Ordunha, que trabalha com a banda e já foi produtor do Noites Cariocas. E citado no livro "Vale Tudo" - a ótima biografia de Tim Maia, escrita por Nelson Motta. Um belo dia, chegou um pacote aqui em casa: um livro e um DVD duplo do Barão. Presente do Duda, que num e-mail, certa ocasião, falou: "O Barão deve se reunir para um show que celebrará os 30 anos do grupo. Quer ir?"
Enjeitar um convite destes? Nem de brincadeira...
E na base do RSVP o convite veio.
Os arcos da Lapa iluminados na noite escura
Saí do plantão no sábado e fui para a Lapa. Não é fácil sair da Barra da Tijuca às 22h e se mandar pro Centro do Rio. Mas lá fui eu, sedento de rock and roll e de uma boa cerveja gelada. Fui indicado para a entrada dos convidados e, com o nome na lista, uma menina indagou. "Convidado do Duda, né?". E no saguão dos elevadores, ganhei não só uma pulseira, mas duas, de livre circulação no 5º andar dos camarotes.
Chegando lá dentro, encontro a lenda, o mito Fausto Fawcett - assim como eu, tricolor de quatro costados. Sem ter o que fazer, fiquei zanzando pelo espaço, bebendo uma cervejinha esperta, até que o Duda apareceu. "Bem-vindo. Está sendo bem tratado? Fique à vontade!" Não podia estar mais à vontade. Melhor que isso, só se eu pudesse descer e ver os Barões de perto ao fim do show, que prometia muito.
O espaço para o público na pista e numa espécie de arquibancada foi enchendo aos poucos e a abertura coube aos Autoramas, banda do Gabriel Thomaz, ex-Little Quail and The Mad Birds e do Bacalhau, antigo batera do Planet Hemp. Show enxuto, honesto, legal de acompanhar. Muito barulho para um grupo com três integrantes - a baixista é uma mulher, Flavia Couri.
E nisso começou o horário de verão. Pra lá de 1h da manhã, com a excitação da plateia a mil após um breve intróito de Perfeito Fortuna, que acolheu na lona do Circo Voador (em tempos de Arpoador, diga-se) o Barão nos seus primórdios, o grupo estava pronto. Os primeiros riffs de guitarra detonados por Frejat e Fernando Magalhães foram a senha para a explosão - no bom sentido - do público. "Por que a gente é assim?", da famosa frase 'Mais uma dose!', abriu os trabalhos, seguida por "Ponto Fraco" e "Pense e dance". Rock do bom, rock na veia da rapaziada e da mulherada. E sem tirar de dentro!
Essa era minha visão do alto, do 5º andar
Um mix de rocks dos primeiros tempos do Barão, como "Menina Mimada", "Billy Negão" e músicas mais recentes - "Cuidado", "Carne de Pescoço" e "Meus bons amigos" - foram capazes de manter o nível do show até chegar a parte onde os violões e a emoção tomarem conta da plateia, que cantou junto com Frejat em "Por você" e se emocionou na hora em que Cazuza foi homenageado, na execução da 'inédita' "Sorte e Azar", de "O Poeta está vivo" e da maravilhosa "Todo amor que houver nesta vida".
Caju não foi o único lembrado da noite. Renato Russo também, com a versão do Barão para "Quando o sol bater na janela do seu quarto". E não podia faltar o pai do rock brasileiro, Raul Seixas, com sua "Tente outra vez" cantada em uníssono.
E com a plateia ganha, foi barbada para Frejat e cia. levarem a Fundição abaixo com "Bete Balanço", "Vem quente que eu estou fervendo", "Malandragem dá um tempo", "Maior abandonado", "Down em mim", "Pro dia nascer feliz", "O Tempo não para" e o apoteótico final com "Satisfaction", emulando o encerramento do CD ao vivo gravado no Dama Xoc nos anos noventa.
Entrementes, no momento onde saí para tirar uma água do joelho, encontro de novo o Duda. Morrendo de curiosidade, pergunto se após o término do show vou poder entrar no backstage e ele logo responde que a pulseira vermelha que eu tinha - além de uma outra laranja - dava livre acesso aos bastidores após o show. Quase caí pra trás quando soube que ia ver as feras do Barão de pertinho!
Celebrando com Fernandão Magalhães. ROCK AND ROLL!
E lá fui eu... que como muitos, acabei barrado por um segurança e depois com a entrada liberada pela intervenção salvadora do Duda. Não demorou muito e os Barões apareceram, um por um. Com exceção do Maurício Barros, com quem não consegui falar, agradeci pelo show, pela volta do grupo e tirei fotos com todos: Guto, Peninha, Fernando, meu xará Rodrigo e Frejat. De bônus, uma foto com Fausto Fawcett. E ainda tive o prazer de reencontrar outro xará meu: Rodrigo Pinto, ex-aluno da ECO/UERJ e biógrafo do Barão Vermelho.
Saí inebriado, em êxtase, depois dessa celebração ao Barão e ao bom rock and roll lá por cinco horas da manhã, meio perdido no tempo e no espaço. A muito custo consegui um táxi e voltei para a Tijuca feliz por fazer parte de um momento tão especial na trajetória de um grupo que fez parte de 30 anos da minha vida.
+1 DOSE, BARÃO!
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