Todo mundo feliz e sorridente na foto, agora. Quero ver se caso a seleção fracassar em 2014, quem vai dar risada...
A Confederação Brasileira de Futebol pisou feio na bola e resolveu dar um passo atrás para, quem sabe, conseguir dar dois à frente. A saída de Mano Menezes do comando da seleção não era esperada para agora, mas a julgar pelo desempenho pífio na Copa América do ano passado e por mais um vice-campeonato olímpico, ficou claro que ele não duraria muito no cargo. E Mano, é bom lembrar, fora uma escolha do antigo presidente Ricardo Teixeira, não do atual, José Maria Marín, que assumiu o cargo em meio a denúncias de corrupção sobre o mandatário anterior - mas que, cabe a ressalva, não é dos mais queridos no meio. Muitos o têm como uma figura abjeta, governador biônico do estado de São Paulo, malufista, filhote da ditadura, enfim... coisas da política nacional.
Saiu da seleção um técnico de currículo mediano, carisma beirando a zero e que por muitas vezes convocou jogadores insípidos e outros, visivelmente, visando negociações com o mercado internacional da bola. Não é de se espantar que Hulk, atleta do Porto antes dos jogos olímpicos de Londres, tenha sido negociado por uma fortuna absurda para o Zenit St. Petersburg, da Rússia. Como explicar tal fenômeno? Com a palavra, as ligações estranhas entre o técnico e seu empresário, Carlos Leite, que também era responsável por dezenas de jogadores convocados por... Mano Menezes.
De certa forma, a demissão de Mano põe fim a um fenômeno que incomodava boa parte da imprensa: o corinthianismo que começava a imperar dentro da seleção, pois além do técnico, que trabalhou no alvinegro de Parque São Jorge, havia ainda Andrés Sanches por lá. Deram-lhe um cargo de diretor de seleções, quando Teixeira ainda mandava alguma coisa. Chegou Marín e as coisas mudaram. O vice de Marin é o presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), Marco Polo del Nero, com passado ligado à Sociedade Esportiva Palmeiras. Como dois bicudos não se beijam e, após a saída de Mano, Andrés insistiu que Tite, treinador do seu Corinthians, seria a escolha perfeita para substituir Mano. Erro fatal: ontem, o dirigente e Marín chegaram a um acordo e Andrés pediu demissão.
A CBF não conseguiu enganar ninguém quando disse primeiro que anunciaria o novo treinador "em janeiro de 2013", mudando depois para "quinta-feira", vulgo "hoje". O acordo com Luiz Felipe Scolari já estava sacramentado, pronto, engavetado e esperando o momento exato para que, livre de Mano, Marín pudesse acertar com o treinador que ele e Marco Polo queriam para a seleção.
Consumatum est, a reboque do acerto, veio Carlos Alberto Parreira, para exercer a função de coordenador. Com oito Copas do Mundo na bagagem - o que, convenhamos, não é pouco, Parreira é um homem viajado, educado, teórico e político. E principalmente, muito mais conhecedor de futebol do que o bronco Andrés Sanches, que exercia, na opinião de muitos, um cargo além do poder que um homem como ele poderia ter dentro dos bastidores do futebol brasileiro. O binômio Felipão-Parreira, mais do que uma combinação "vitoriosa", porque foram os treinadores das duas últimas conquistas do Brasil em Copas, em 94 e 2002, é uma forma de Marín e a CBF lavarem as mãos em público. Disse o presidente da entidade, que aliás cometeu a gafe de chamar Parreira de Antônio Carlos Parreira (à la Roberto Horcades, que chamou Fred de Fábio na apresentação do centroavante no Fluminense em 2009), que "está feita a vontade popular".
Não, presidente, não está feita a vontade popular. Pior: a CBF joga nas costas de Felipão e Parreira a completa responsabilidade da conquista do hexa. Sabem aquela fala do Capitão Fábio em Tropa de Elite? "Essa pica não é mais minha. Agora tá na mão do aspira." Pois é... a "pica" agora está nas mãos dos dois que chegam para apagar o incêndio que tomou conta da seleção brasileira.
No fundo, a escolha até pode ter algum fundamento. Felipão é um treinador que se dá bem em competições de tiro curto. Com um Palmeiras de elenco tenebroso, levou no primeiro semestre a Copa do Brasil e levou o alviverde, recém-rebaixado à Série B, de volta para a Libertadores da América. Mas não são poucos os que creditam esse rebaixamento ao trabalho que Scolari (não) fez no segundo semestre. Claro que há uma corrente favorável a pôr toda a culpa na diretoria encabeçada pelo presidente Arnaldo Tirone, que - vamos e venhamos - é um péssimo dirigente. Mas Felipão também deixou o barco correr frouxo, o clima ficou ruim, insustentável e aí é fácil largar o mesmo barco à deriva quando se sabia que a corrente já tinha levado a embarcação palmeirense rumo à Segundona.
E tem mais: o Felipão de 2013/14 não é mais o mesmo de 2002 - com relação a conquistas, porque a metralhadora giratória continua a mesma, repleta de frases de efeito e outras infelizes, como a que ele soltou sobre os funcionários públicos. Quantos títulos após o penta ele conquistou mesmo? E Parreira? Que conquistas relevantes teve como treinador nos últimos tempos? Sem querer tirar os méritos dos dois quando a seleção ganhou Copas do Mundo sob o comando de ambos, insisto: a escolha é um passo atrás da CBF.
O futebol brasileiro, 14º colocado no ranking de seleções da FIFA, nunca atingiu um nível de descrédito tão grande, nem mesmo quando a antiga CBD trocou Aimoré Moreira por João Saldanha - e olha que João Saldanha era jornalista e só tinha sido treinador, de forma 'experimental' no Botafogo, de 1955 a 1959. Uma seleção que prefere enfrentar Gabão, China e outros menos votados a fazer confrontos, como nos velhos e bons tempos, contra potências feito a Argentina de Lionel Messi, a Alemanha de Özil e Götze, a Holanda de Robben e Sneijder e, principalmente, a Espanha cuja filosofia de jogo lembra o Barcelona do mesmo Messi citado linhas acima, só pode estar onde está no futebol internacional.
Há não muito tempo atrás, quem jogava pra frente, de forma envolvente, alegre, objetiva e que encantava a torcida, éramos nós, os brasileiros. E hoje, o que jogamos? O que os nossos treinadores mostram de envolvente, objetivo e alegre em seus times? O Fluminense, embora campeão brasileiro com méritos e uma campanha de números incontestáveis, fez várias partidas onde irritou sua torcida. Venceu várias delas jogando mal, mas é do esporte. E olha que eu sou torcedor do Fluminense, nunca é demais lembrar.
Futebol, hoje, é resultado, bola na rede e três pontos. Que se exploda o placar. Mas poderia haver, como houve noutros tempos, o diferencial, a jogada que vale a pena ser vista e revista, o toque refinado do craque. E o treinador que, na minha concepção, seria perfeito para reimplantar a vocação de futebol bem jogado que sempre tivemos, não era um brasileiro.
Para o meu gosto, Pep Guardiola é que deveria ser chamado para dar uma injeção de moral e ânimo para a seleção brasileira. Hoje, na coletiva de apresentação de Felipão e Parreira, José Maria Marín desdenhou e disse que Guardiola "nunca foi treinador de seleção". Não deixa de estar certo o presidente da CBF. Mas, puxemos pela memória: Dunga fora treinador de seleção, quiçá de clube, antes de assumir após a saída de Parreira e o fracasso na Copa de 2006? E Mano? Tinha credenciais e peso para treinar uma seleção brasileira? Nem Felipão tinha treinado seleção alguma antes de pegar o rabo de foguete em 2001 e conseguir o penta. Só depois disso é que foi treinar Portugal numa Eurocopa e numa Copa do Mundo.
A CBF esqueceu que o futebol brasileiro só experimentou renovações e reinvenções na parte tática com a presença de estrangeiros. Com o WM de Herbert Chapman, introduzido aqui - se não me falhe a memória - pelo húngaro Dori Kruschner, saímos da idade da pedra para um 3º lugar na Copa da França em 1938. Depois disso, tivemos que pagar tributo ao uruguaio Ondino Vieira, a outro húngaro, Bela Guttman e também ao paraguaio Fleitas "Feiticeiro" Solich.
Não é a toa que a mentalidade de "seleção brasileira dirigida por brasileiros" só foi quebrada uma única vez, com Filpo Nuñez no comando de um Palmeiras travestido de seleção brasileira, que derrotou por 3 x 0 o Uruguai num amistoso em 1965, em Belo Horizonte. Enquanto continuarmos assim, a nossa decadência técnica, tática e competitiva vai ficando cada vez mais latente e o Brasil cada vez mais atrasado e defasado em relação aos seus adversários.
Será que a surra que o Santos levou do Barcelona há quase um ano já não tinha servido de lição?
Pelo visto, o pessoal quer levar mais porrada para ver onde é que fica o fundo do poço. Se bobear, o futebol brasileiro está bem pertinho dele. É só fracassar mais uma vez - e em casa - para ver o que vão falar da CBF de José Maria Marín e asseclas pós-2014.
É isso.
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