quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

Londres aos pés dos Mutantes

Diversas vezes já expressei em mal traçadas linhas minha extrema admiração pelos Mutantes.

E afinal, que outro grupo conseguiu mesclar em seus trabalhos a universalidade do rock com a MPB, a tropicália, o progressivo e outras vertentes?

Confesso que fiquei surpreso no ano passado quando rolou um rumor de que o grupo voltaria. E imediatamente imaginei: será que a Rita toparia? Liminha? E o Dinho?

Mas o que me preocupava mais era Arnaldo Baptista. Afinal, o antigo líder natural do grupo sofrera um acidente em 1982 e para muitos, nunca deu mostras de total recuperação - sinceramente, nem para mim.

Arnaldo topou de saída o convite de Sérgio Dias, irmão dele e responsável pela reunião do grupo. Dinho, que não tocava bateria havia 30 anos, também. Liminha foi junto.

E Rita?

A rainha do rock, envolvida com o programa "Saia Justa" na época, delicadamente disse não. Mas depois, por outros veículos de imprensa, mudou de atitude e desceu o verbo na reunião, dizendo que se tratava de um 'congresso de geriatria'.

Azar o dela, porque Sérgio Dias convidou Zélia Duncan para fazer parte do projeto e ela prontamente aceitou.

Liminha seguiria o mesmo caminho de Rita quando, com toda a experiência adquirida com o estúdio "Nas Nuvens" (que é dele), sugeriu que as primeiras bases dos ensaios fossem gravadas com o uso do Protools - um programa de computador que cuida da mixagem e do que mais o freguês quiser. Fã de outro tipo de tecnologia, mais artesanal, Sérgio não topou e os dois bateram de frente. O baixista saiu do projeto.

Sérgio, Arnaldo, Zélia e Dinho entraram com fôlego nos ensaios. E salvo ressalvas, parece que nada havia mudado. A saga mutante voltava com a mesma força que ganhou o país de 1967 a 1972.

E como o Movimento Tropicalista completava 40 anos de sua existência no ano passado, organizou-se uma série de shows com artistas nacionais. Os Mutantes foram convidados - e aceitaram - tocar em Londres no Barbican Hall e fazer o show da volta, que seria gravado para posterior lançamento em DVD e CD.

No último sábado, passeando num shopping aqui do Rio, encontrei o DVD à venda. Trouxe um pra casa e acho que demorei para assisti-lo. Foram três longos dias (alguns ocupados por "Anos Rebeldes") até que eu pusesse o disco no aparelho e assistir o show.

Putz! Valeu a espera!

Eles abrem com "Dom Quixote", a admirável sacaneação pra cima do personagem de Miguel de Cervantes, sem esquecer da citação ao Velho Guerreiro Chacrinha. Depois vem "Caminhante Noturno", "Ave Gengis Khan" - onde Sérgio faz misérias com a velha Régulus construída pelo outro irmão dele e de Arnaldo, Cláudio César, "Tecnicolor" - onde brilha a backing vocal Esmérya Bulgari e a balada "Virgínia".

Em "Cantor de Mambo", onde Sérgio Dias sacaneia Bush, Tony Blair e Sérgio Mendes (o sacaneado-mor) na abertura, acontece o milagre: Arnaldo Baptista canta - não com o brilhantismo de outrora, é claro - e leva a platéia ao delírio.

Violão na mão, Serginho comanda "El Justiciero", para emendar depois em versões de "Baby" e "Desculpe Babe" em inglês.

"Top Top" é a primeira música que tira a bunda da galera da poltrona, e onde na minha opinião o velho de guerra Dinho Leme (que é irmão do Reginaldo, comentarista de F-1 da Globo) mata a pau mostrando que 30 anos sem tocar bateria não foram problema nenhum para ele.

Arnaldo reaparece, agora sim de forma brilhante, em "Dia 36", com direito a distorção vocal semelhante à do disco onde foi gravada em 1968. E daí até o final, todas as outras músicas são um deleite aos olhos e ouvidos dos seres mais privilegiados da Terra - quem comprou o DVD e quem assistiu, in loco, a reunião mutante.

Quando Sérgio ataca ao violão os primeiros acordes de "A Minha Menina", todo mundo já está de pé e só falta virar baile. Em "Bat Macumba", o riponga-mala Devendra Barnhart aparece com outro amigo barbado para pular e gritar no palco, uma participação dispensável.

E o show fecha com a faixa 1 do primeiro disco do grupo: "Panis Et Circensis", evidentemente.

A platéia, embevecida, hipnotizada, pede bis, grita "We Love You".

Londres aos pés dos Mutantes.

Um fecho de ouro para uma reunião que foi ironizada, classificada por Rita Lee (que acabou não fazendo nenhuma falta - até gosto muito dela, mas não fez falta mesmo) como um 'congresso de geriatria', mas que no fim de tudo foi uma grande curtição.

Ver Arnaldo de volta, mesmo que seqüelado, foi demais. Zélia não tentou ser Rita Lee - foi ela mesma, Zélia Duncan, sem exageros. Serginho é um cracaço na guitarra e no violão e assumiu a postura de frontman do grupo, que já vinha mostrando em entrevistas. Mas emocionante mesmo foi ver Dinho Leme mandando MUITO bem nas baquetas. Eles estavam afiados e os músicos de apoio contratados para os shows foram muito bons também.

Nota 10 para a volta dos Mutantes!

E agora a dúvida cruel... em que show eu vou?

Do Museu do Ipiranga, dia 25? Ou o do Vivo Rio, em 3 de fevereiro?

Um comentário:

Dinho Amaral disse...

eu tinha a biografia dos mutantes e tinha uma foto do Dinho Leme com um Lorena !!! pena que emprestei o livro e nunca mais vi a foto...