sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Fosfosol - "Recordar é viver... Assis acabou com vocês"

Dezesseis de dezembro de 1984. Maracanã, o templo sagrado do futebol brasileiro, palco de mais uma decisão do Campeonato Carioca. Flamengo x Fluminense, o clássico eterno, de maior festa, de maior colorido, prometendo mais um jogão de bola para os torcedores.

Fla-Flu que naquele ano foi um confronto envolto em algumas polêmicas, como na Taça Guanabara, onde alguns jogadores do Flu foram presentear o General Figueiredo, então o último presidente do período nefasto da ditadura militar - e também tricolor, com uma camisa do clube. Mal assessorados, estes jogadores (entre eles Delei e Paulo Victor) se deixaram ser fotografados na companhia de Paulo Salim Maluf, o candidato do PDS na eleição indireta que aconteceria em janeiro de 1985.

A imprensa repercutiu - mal - o episódio nas hostes tricolores e fez a festa. A chamada "Malufada" não pegou bem mesmo e claro que a torcida do rival do Fluminense caiu na pele dos tricolores. "Maluf é corrupção, Tancredo é solução", bradava uma faixa na arquibancada do Maracanã no dia do confronto decisivo entre a dupla Fla-Flu. O Fluminense sentiu o golpe da "Malufada": perdeu por 1 x 0, gol de Adílio. Sobrou para Luiz Henrique Menezes, que era o treinador e foi demitido.

No returno, o Fluminense continuou em campanha regular e o Flamengo, relaxado por ter ganho o primeiro turno do Estadual, cometeu deslizes que hoje seriam imperdoáveis. Na penúltima rodada, o rubro-negro empatou com o Campo Grande em 1 x 1, antes do Fla-Flu da rodada final, que aconteceu num sábado à noite. E para desespero dos flamengos, o tricolor venceu: 2 x 1, com gols de Washington e Assis. E com isso, credenciou-se para jogar o triangular decisivo do campeonato, posto que, com 33 pontos, fez melhor campanha no cômputo geral em relação a Flamengo e Vasco, que ganhou a Taça Rio.

Com Carlos Alberto Torres, o "Capita" de 70, no banco orientando aquela constelação de craques, o Fluminense teve lá seus problemas ao longo da competição. Ricardo Gomes, excelente zagueiro de apenas 19 anos, foi alijado por uma contusão séria no joelho e entrou o raçudo e por vezes tosco Vica, que viera da Ferroviária de Araraquara. Branco, também às voltas com problemas físicos, vez por outra dava lugar ao eficiente Renato Martins. E Delei, sem contrato durante grande parte do campeonato, era substituído ora por Leomir, ora por Renê. Sem que a meia-cancha que tinha ainda Jandir, Assis e o craque Romerito, perdesse sua eficiência.

O Flu atropelou o então freguês Vasco na primeira partida do tricolor no triangular por 2 x 0 e esperou o desfecho do jogo entre cruzmaltinos e flamengos para ver como ficaria sua situação no último jogo. O Fla venceu por 1 x 0 e isso fez com que, quem vencesse o clássico, levaria o título para casa. Empate forçava a realização de um jogo extra na quarta seguinte, pois não havia critério de desempate por saldo de gols.

Nada menos que 153.520 torcedores pagaram ingresso para assistir àquele Fla-Flu decisivo, proporcionando uma renda de Cr$ 788.175.000,00. José Roberto Wright foi indicado para apitar o jogo e o Fluminense, com Raul Carlesso no banco - pois Carlos Alberto Torres estava suspenso pelo STJD da federação - entrou para o jogo com Paulo Victor, Aldo, Duílio, Vica e Renato; Leomir, Renê e Assis; Romerito, Washington e Tato.

O Flamengo, com um time tão forte quanto o do Fluminense, jogou com Fillol, Jorginho, Leandro, Mozer e Adalberto; Andrade, Adílio e Tita; Bebeto, Nunes e Élder. O técnico era Mário Jorge Lobo Zagallo.

Com a bola rolando, os jogadores mostraram porque o Fla-Flu é um confronto tão emblemático quanto imprevisível. Ambos os times vinham com disposição e vontade de vencer e sim, de fato, o Flamengo deu muito trabalho à defesa tricolor. Mas Paulo Victor, muralha inexpugnável, pegou tudo naquela tarde-noite de dezembro.

O confronto caminhava para um empate que decretaria o jogo extra na quarta-feira dia 19 de dezembro. Mas para alguém vencer, era preciso explorar a mínima desatenção do adversário. E aos 30 minutos do 2º tempo, aconteceu.

O Fluminense saiu jogando do seu campo defensivo, bola de pé em pé, com o Flamengo na roda. A pelota passou para o lado direito do gramado, onde Renê e Aldo fizeram ótima trama. O gaúcho fez o passe e o amapaense dos cruzamentos perfeitos passou pelas costas de Adalberto e recebeu livre para fazer o levantamento para a área adversária.

Num desses caprichos do destino, a bola encontrou um velho conhecido da torcida tricolor e também da rubro-negra: Benedito de Assis Silva, o Assis, o Carrasco de 1983, meteu a cabeça na bola e Fillol, o goleiraço argentino, ficou "paradão, paradão, paradão", como disse José Carlos Araújo na narração do gol pela Rádio Globo.

Assis, que tantas alegrias nos dera no ano anterior, voltava a pôr na boca dos rubro-negros o gosto amargo de mais uma derrota. O Fluminense, como ótimo time que era, administrou o resultado, ganhou o bicampeonato estadual e fechou o ano de 1984 com chave de ouro, provando que fora de fato e de direito, o melhor do país.

"RECORDAR É VIVER, ASSIS ACABOU COM VOCÊS!"

Saudações tricolores!

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