quinta-feira, 20 de abril de 2006

O maestro Ronaldinho

Confesso por meio destas linhas que, pela minha pouca idade, não tive o privilégio de ver Pelé jogando ao vivo - só em filme.

Genialidade a toda prova eu só tinha visto num jogador apenas: Diego Armando Maradona.

Isto até surgir Ronaldinho Gaúcho.



E lembro muito bem da profecia feita pelo irmão Assis à revista Placar no fim dos anos 80. Então promessa de craque no Grêmio, o jogador disse que "o meu irmão, mesmo pequeno, é muito melhor do que eu."

Sábias palavras. Assis despontou para o anonimato e hoje a mídia só tem olhos para o craque dentuço que um dia ousou dar um baile em Dunga num Gre-Nal decisivo de Gauchão e logo ganhou uma chance na seleção brasileira então treinada por Vanderlei Luxemburgo.

Quem não se lembra do golaço logo na partida de estréia contra a Venezuela, na Copa América de 1999?

Ronaldinho não tem somente lampejos. Ele é objetivo, arisco, habilidoso, genial. Um mestre, um maestro com a pelota nos pés. Decisivo, incisivo, o terror das defesas adversárias.

Na última terça, observei com interesse redobrado o jogo entre Barcelona x Milan, principalmente porque gosto do jeito do Barça jogar e sou anti-Milan por causa, claro, de sua detestável combinação de cores.

Analisando friamente os esquemas de jogo, mesmo em seu campo e com mais de 80 mil torcedores a seu favor, o Milan foi demasiadamente pragmático. Carlo Ancellotti, seu treinador, escala a equipe com uma "zaga torta" com apenas um lateral de origem (saíram jogando Stam, Nesta, Kaladze e Serginho). Trancando o time, ele protege a retaguarda com o limitado e brucutu Gattuso e aí nas demais posições é só qualidade com Seedorf, Pirlo, Kaká, Shevchenko e Gilardino.

Eu acho o Barcelona um time muito mais coeso e objetivo que o Milan. Rijkaard escala sua linha de defesa normalmente com Oleguer, Rafa Márquez, Puyol e Van Bronckhorst. Edmílson, que é meio-campo de formação, lidera a proteção à defesa junto com o holandês Van Bommel, dando liberdade para Messi e Deco (substituídos em Milão por Iniesta e Giuly). Ronaldinho é o elo de ligação entre a meia e o camaronês Samuel Eto'o, o artilheiro do time.

E que elo de ligação, aliás!

Com jogadas de efeito (chapéu em Pirlo, embaixadinha com quatro na marcação, dribles em Stam, Kaladze e Nesta) e mais uma atuação primorosa, Ronaldinho mostrou toda sua genialidade num único toque na bola.

Aos 13 do segundo tempo, ele livrou-se do carrapato Gattuso e com um "tapa" de pé direito, colocou o baixinho Giuly em condição de fuzilar a meta de Dida. Vitória importantíssima do Barça, que caminha a passos largos não só para o bicampeonato espanhol como também à conquista da Champions League no dia 17 de maio, em Paris.

As conquistas do Barça serão um aperitivo agradável para Ronaldinho e a torcida alemã está ávida por seus dribles e suas jogadas de encantamento.

O Kaiser Franz Beckenbauer foi taxativo. "Estamos diante daquele que deverá ser o grande nome da Copa da Alemanha."

Cafu, velho capitão e companheiro do craque na seleção já o compara às lendas do futebol mundial.

Prefiro dizer que Ronaldinho é gênio, um virtuose, um estilista, parafraseando Nelson Rodrigues. E digo mais: suas obras de arte nos gramados poderiam ganhar a assinatura de outros gênios - Gaudí, Monet, Picasso, Michelangelo...

Pois se a arte é eterna, o que o craque faz nos gramados pelo mundo é digno de ficar encravado nas nossas retinas.

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